29 de out. de 2010

PRINCIPAIS DERMATOSES OCUPACIONAIS

Dermatites de contato por irritantes (DCI) CID - 10 L24 
Ao contrário das dermatites de contato alérgicas, não é necessário sensibilização prévia. A fisiopatologia das dermatites de contato por irritantes não requer a intervenção de mecanismos imunológicos. Assim, pode aparecer em todos os trabalhadores expostos ao contato com substâncias irritantes, dependendo da sua concentração e do tempo de exposição e da periodicidade do contato com o agente irritante. O contato freqüente com água, sabões e detergentes favorecem a irritação.
O quadro clínico varia de acordo com o irritante, podendo aparecer sob a forma de dermatites indistinguíveis das dermatites de contato alérgicas agudas, até ulcerações vermelhas profundas, nas queimaduras químicas. A dermatite irritativa crônica é mais freqüente que a aguda ou acidental. Agressões repetidas, por irritantes de baixo grau, ocorrem ao longo do tempo. Nesses casos, a secura da pele e o aparecimento de fissuras são, freqüentemente, os primeiros sinais, que evoluem para eritema, descamação, pápulas, vesículas e espessamento gradual da pele. As dermatites de contato irritativas podem ser facilmente diagnosticadas pelas histórias clínica e ocupacional. Os testes epicutâneos ou patch test não estão indicados para o diagnóstico. Mas DCIs crônicas, que não respondem bem ao tratamento podem realizar o teste de contato para investigar sensibilização às vezes ao medicamento usado.

Dermatite irritativa de contato forte (DICF) 
• Etiopatogenia 
Irritantes fortes são substâncias químicas que produzem, quando em contato com a pele, graves lesões inflamatórias, ao primeiro contato. A gravidade da lesão dependerá da toxicidade, do tempo de contato e da concentração do agente químico. O cimento,por ser abrasivo alcalino e altamente higroscópico, produz, quando em condições especiais de contato com a pele, ulcerações rasas e profundas. O tempo de contato da massa ou calda de cimento mais a pressão e atrito exercido pelo calçado e/ou vestuário contra o tegumento são fatores importantes no aparecimento destas lesões. A queda de cimento, calda de cimento ou de concreto, ou mesmo pó de cimento (ONUBA; ESSIET, 1986), em quantidade, dentro da bota ou do calçado, mais o atrito e pressão que ocorrerá na área de contato da pele com o cimento irão produzir inicialmente intenso eritema, posteriormente exulceração, ulceração e necrose na área atingida. Hannuksela (1976) descreveu ulcerações profundas na região patelar, cerca de 12 horas após a exposição, em sete operários que trabalhavam ajoelhados em contato com cimento úmido. A alcalinidade e o poder oxidante do cimento são fatores importantes na gênese dessas lesões ulceradas. Os fatores atrito e pressão são condicionadores, pois as lesões ocorrem com maior gravidade nos locais da pele onde existem estes fatores, mais acúmulo da massa de cimento ou concreto. 
• Quadro Clínico
Horas após ter caído massa de cimento dentro das botas ou calçados, ocorre eritema com prurido, ardor, queimação. Já no dia seguinte, poder-se-á observar as lesões em fase ativa, exulceradas, ulceradas ou necrosadas, dependendo tão somente do tempo de contato e da alcalinidade do cimento ou concreto. 

– Principais aspectos clínicos das principais dermatites de contato

Dermatite irritativa de contato (DIC). Ressecamento da pele na área de contato. Descamação com ou sem eritema. Pode evoluir com fissuras e sangramentos. É importante salientar que o processo irritativo irá depender do agente causal (vide abaixo a classificação dos irritantes conforme CID 10). 
Dermatite irritativa forte de contato (DIFC). Surge ulceração na área de contato com posterior necrose. Ardor, queimação e dor são sintomas presentes. O contato com ácidos,álcalis fortes são os principais agentes responsáveis. Outro agente importante é a queda de massa de cimento ou concreto dentro da bota, calçado ou luvas. Dermatite Alérgica de Contato (DAC) Presença de eritema, edema, vesiculação e prurido.Ao se cronificar, verifica-se a formação de crostas serosas às vezes com infecção secundária às vezes ocorre liquenificação (espessamento da pele). Observação: prurido, juntamente com os demais achados clínicos, é um bom indicador de Dermatite Alérgica de Contato (DAC). 

Tabela 4 – Principais dermatites de contato por irritantes e seus respectivos agentes 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a detergentes (L24.0) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a óleos e gorduras (L24.1) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a solventes: cetonas, ciclohexano, compostos de cloro, ésteres, glicol, hidrocarbonetos (L24.2) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a cosméticos (L24.3) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a drogas em contato com a pele (L24.4) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a outros produtos químicos: arsênio, berílio, bromo, cromo, cimento, flúor, fósforo, inseticidas (L24.5) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a alimentos em contato com a pele (L24.6) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a plantas, exceto alimentos (L24.7) 
  • Dermatite de contato por irritantes devido a outros agentes químicos: corantes (L24.8) 
  
Dermatites alérgicas de contato (DAC) CID - 10 L23 
As DAC se manifestam como eczemas agudo ou crônico. Na fase aguda, são acompanhadas, freqüentemente, por prurido intenso e, nas formas crônicas, por espessamento da epiderme (liquenificação), com descamação e fissuras. Classificados como alérgenos, por já terem apresentado testes epicutâneos positivos, demonstrados cerca de cinco mil substâncias (DE GROOT, 1994). Tabela 5. A DAC corresponde a uma reação imunológica do tipo IV. A substância contactante é capaz de penetrar na pele e estimular o sistema imunológico do indivíduo a produzir linfócitos T que liberam várias citoquinas, provocando uma reação inflamatória. A DAC resulta de uma reação cutânea eczematosa, imunologicamente mediada por células-T, com resposta antígeno-específica tardia, a um antígeno hapteno em contato com a pele. Ao se afastar do contato com o alérgeno, pode haver remissão total do quadro, mas a hipersensibilidade latente permanece e reexposições voltam a desencadeá-lo.O período de incubação, após a exposição inicial, pode variar de cinco a 21 dias. No trabalhador sensibilizado, reexposto ao contato com um agente sensibilizante, é previsível o aparecimento de uma dermatite eczematosa no período de um a três dias e seu desaparecimento de duas a três semanas, cessada a exposição. 
Tabela 5 – Principais agentes causadores de Dermatites Alérgicas de Contato (DAC) CID - 10 
  • Dermatite alérgica de contato devido a metais (L23.0) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a adesivos (L23.1) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a cosméticos (fabricação/manipulação) (L23.2) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a drogas em contato com a pele (L23.3) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a corantes (L23.4) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a outros produtos químicos (L23.5) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a alimentos em contato com a pele (fabricação/manipulação) (L23.6) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a plantas (não inclui plantas usadas como alimentos) (L23.7) 
  • Dermatite alérgica de contato devido a outros agentes (causa externa especificada) (L23.8). 
Características dos quadros crônicos: 
Os quadros crônicos são caracterizados por pele espessada, com fissuras, e podem agudizar nas reexposições ao antígeno. O diagnóstico e a caracterização como doença relacionada ao trabalho são feitos baseados na história clínico-ocupacional e no exame clínico. A identificação das substâncias alérgenas (para fins de diagnóstico e para prevenção de novos contatos e reexposição) pode ser auxiliada pelos testes epicutâneos ou patch tests. 

Tratamento e outras condutas 
Tratamento tópico 
• Adstringentes 
No estágio de vesículas e exsudação está indicado uso de compressas ou imersão dos pés e mãos em solução salina normal, água boricada ou permanganato de potássio. As lesões costumam secar em três dias. 
• Emolientes 
Indicados para recuperar a função de barreira da pele, reduzir o ressecamento e o prurido. Pode ser usado vaselina, cold cream, creme lanette. Acrescentar uréia somente quando a pele estiver íntegra, caso contrário pode ocorrer prurido e ardor. Orientar banho morno, sem bucha e com sabonete suave.
• Corticóides tópicos 
A escolha da concentração, potência e veículo depende de vários fatores: tipo, estágio e localização do eczema, além da idade do paciente. 
Cremes ou loções: para lesões exudativas. 
Creme, gel ou loção: para áreas pilosas ou flexoras. 
Pomadas: para lesões secas e crônicas.Efeitos adversos ao uso de corticóides: atrofias cutâneas, telangiectasias, púrpura, estrias. 
Caso haja recidiva ao suspender o tratamento, principalmente quando se usa corticóide muito potente e se interrompe bruscamente o seu uso • disseminação ou infecção secundária: bacteriana, fúngica; 
• dermatite perioral, acne rosácea – quando usado no rosto; 
• sensibilização à fórmula ou ao próprio corticóide; 
• uso sistêmico: supressão do eixo adrenal – manifestações cushingóides. 

Tratamento sistêmico 
Se houver infecção secundária extensa poderão ser usados antibióticos tais como: eritromicina, cefalosporina, tetraciclina; e antifúngicos: fluconazol, cetoconazol, terbinafina, itraconazol. 
• Anti-histamínicos: para alívio do prurido: hidroxizine, loratadina, cetirizina. 
• Corticóides sistêmicos: indicados no tratamento da fase aguda das exacerbações graves. 
• Tratamento com psoraleno e UVA (PUVA). Esse tratamento é indicado para pacientes com dermatite crônica, generalizada – deve ser realizado em centros especializados. 
• Ciclosporina: a ação imunossupressora, apresenta toxicidade dose dependente, podendo ser utilizada somente sob supervisão de um médico com experiência no uso desta droga. 

Resumindo: 
- Cuidados higiênicos locais para prevenir a infecção secundária. 
- Tratamento tópico: corticóides e/ou antibióticos, emolientes, hidratantes. 
- Tratamento sistêmico: 
- Anti-histamínicos sistêmicos. Em casos mais extensos, deve-se empregar a corticoidoterapia sistêmica. 

O afastamento da exposição é essencial. 

- Em caso de infeção secundária usa-se: antibiótico tópico, ou sistêmico, dependendo da extensão das lesões.

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