O termo “ciclo de vida” de um material tem sido muito usado no campo da sustentabilidade, não só no ramo da construção civil, mas também em outros setores da nossa sociedade. Mas o que significa este termo? Qual a importância de se saber o ciclo de vida de um determinado produto, quando a preocupação é a preservação do planeta?
Em linhas gerais, o ciclo de vida de um produto é uma análise que avalia os impactos ambientais gerados desde o “nascimento” deste até sua “morte”, ou seja, são estudados os impactos desde a produção da matéria prima para o produto, passando pelo processo de fabricação, transporte, uso, manutenção até o destino final, quando termina sua vida útil.
Para ficar mais claro, vejamos o exemplo do ciclo de vida do cimento, insumo da construção civil largamente usado no planeta (fonte: USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo).
Etapa 1 – extração de calcário e argila da natureza. O calcário responde por 90% da constituição do cimento. A atividade de extração de calcário das minas consome energia dos motores a diesel;
Etapa 2 – transporte do calcário e argila até a unidade fabril, provocando emissões de gases poluentes dos caminhões transportadores;
Etapa 3 – fabricação do cimento, misturando-se o calcário e a argila e em seguida aquecendo-se a mistura para resultar no clínquer. Esta etapa emite CO2 na atmosfera (em média, para 1 tonelada de clínquer, 600 kg de CO2 são emitidos) e consome grande quantidade de energia dos motores elétricos;
Etapa 4 – transporte do cimento para os pontos de revenda, e destes para os canteiros de obra, gerando emissões de gases poluentes dos caminhões transportadores;
Etapa 5 – Utilização do cimento na obra. Pode haver geração de lixo através do desperdício ou descarte impróprio da embalagem;
Etapa 6 – Fim da vida útil do cimento na obra, através da demolição e geração de entulho como impacto ambiental. Fecha-se o ciclo.
Descrevendo-se cada etapa do ciclo de vida do cimento e seus impactos ambientais, fica muito mais fácil a tarefa de reduzir estes impactos e tornar o produto menos nocivo ao meio ambiente. E é o que os fabricantes preocupados com a sustentabilidade estão fazendo.
Por exemplo, na etapa de extração de matéria prima, rejeitos da mineração de calcário são reutilizados. Na etapa de fabricação, resíduos de outros processos industriais são reaproveitados na composição do cimento (escória) e como combustível no processo de queima. Na etapa de utilização, as embalagens do cimento são 100% recicláveis. E quando o cimento vira entulho, este pode ser também reciclado.
Agora que você já tem noção do que seja o ciclo de vida de um produto, tem uma visão mais ampla dos diversos impactos ambientais inerentes à fabricação e consumo deste produto, e sabe que nem tudo que se intitula “verde” ou “ecológico” é inofensivo ao meio ambiente. E, claro, terá mais cautela na hora das compras, procurando saber se determinado produto traz embutida a redução dos impactos que provoca.
pOR Ivana Jatobá é Engº Civil graduada na Universidade Católica do Salvador
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